Sofia e os anagramas
Fui
visitar minha amada Sofia, certo dia, pois estava precisando de boas ideias para
acalmar uma dor que jazia em meu peito arfante. Suas palavras permitiam manter
meus pés no chão. Antes de entrar em sua casa, me deparei com sua filha, Ana,
brincando na grama, contemplando o voo das borboletas, acariciando uma rosa e
apreciando seu perfume. Fiquei atônito, a criança sorria tanto com tão pouca
coisa. Qual o segredo para ser tão feliz assim? Perguntei-me. Seria a
simplicidade? O desconhecimento dos males do mundo? O fato de não conviver com
pessoas arrogantes, egoístas e mal-humoradas a fazia feliz? Continuei a
Inquirir o meu ego e lembrei-me que costumava ser assim quando estava amando
viver, apreciava até o mais simples gesto da minha amada com encanto. Acariciava o seu nariz com o meu, beijo de esquimó, com tamanho zelo que até as
obras de arte ficavam com inveja. Sentia seu doce perfume como um faminto sente
o cheiro de comida, desejando vorazmente degustar o gosto da mesma.
Olho
para a casa e vejo Sofia sorrindo também, é um sorriso tão bonito quanto o da
sua filha, digno de um verso dos grandes poetas apaixonados. Caminho em direção
a Sofia não sem antes dizer "olá" a criança que doa outro sorriso belo como
resposta. Entro na sua linda casa apinhada de artefatos, estátuas e obras de
arte. Exponho tudo que me assola, os sonhos abandonados pelo meu grande amor, a
dor que jamais cessa em meu peito. A raiva de não viver tudo aquilo que poderia
ter sido. Questões que não encontro respostas.
Sofia
retorquiu: “Não sou muito de acreditar em coisas que não vejo, no entanto lhe
direi essas palavras, declamando Shakespeare ela diz: 'Há mais coisas entre o
céu e a terra do que nossa vã filosofia'. Pense nisso, você pode ser como eu,
fria, com a cabeça no lugar ou viver como minha filha encantada com qualquer
coisa, esperançosa”. Digo-lhe uma coisa, divirta-se com alguns anagramas da palavra "amor" e darei o meu veredito após ver as frases que se formaram.
-...
Fiquei sem palavras e pensativo e apenas proferi os meus pesares utilizando os
anagramas de modo deprimente e lamentável:
Vejo o dinheiro
comprando tudo ao meu redor até as pessoas que mais amo (o dinheiro compra
tudo?). Qual o valor do moar que
devemos pagar para ser felizes?
Um grito dentro de mim
reverbera: ‘‘SOSSEGO, ONDE ESTÁ VOCÊ”. Chegou a hora de ir ao firmamento? É
preciso ir tão longe para encontrar um ramo
da árvore da paz ?
Em Roma encontraria a inspiração que fez de Horácio, Ovídio e Virgílio
grandes poetas? Com meu ânimo criador esfacelado será que poderei mais uma vez
escrever com o coração versos onde as pessoas possam dizer: ‘‘Achei bonito o que
você escreveu, posso copiar?’’.
Roam
até o fim estas perguntas a minha alma até poder saciar os meus desejos. Pois,
ela só serve para fazer companhia ao coração que outrora batia de felicidade e
agora palpita de intruso para manter um corpo que quer a eutanásia.
Na minha lápide que
tenha o pseudônimo de Maro. Aquele
que desejou e procurou o amor verdadeiro. Aquele que se doou sem esperar ser retribuído.
Aquele que acreditou na força de um "Eu te amo" sem palavras, uma atitude em prol
do coração alheio.
Armo,
arquiteto planos, no entanto lembro de tudo o que sonhei e não se realizou e
ponho meus pés no chão dizendo a mim mesmo para viver um dia de cada vez.
Mora,
habita uma grande pessoa dentro de mim que precisa de outra para viver.
Clayton Levi
Nenhum comentário:
Postar um comentário